O Rouxinol que Salvou o Mundo

           Braunau, Austria,verão de 1884.

          Alois não estava transtornado pela segunda viuvez. A notícia da morte de Franziska já era esperada. Mas os filhos pequenos requeriam cuidados que só uma mãe poderia oferecer. Sua prima Klara ajudava, mas até quando ele poderia contar com aquela moça?
          Certa tarde de sábado, ele observava Klara, de longe, cuidando da pequena Angela com um percebível carinho. Ela era jovem e atraente. Um pensamento furtivo passou por sua mente: “- E se ela fosse minha?” Na verdade, já tinha intimidade suficiente para abordá-la mais incisivamente...
          Mas seria adequado casar-se com uma prima? Por que não? Os pais de Klara até que gostariam, e ela não seria a primeira criada a tornar-se oficialmente sua esposa.
          Alois estava quase levantando da poltrona para, enfim, começar a transformar a ideia em fato, quando um canto de rouxinol irrompeu pela casa.
          Estranhamente ele parou para ouvir o melancólico trinado que se estendeu por uns três longos minutos.
          Quando o silêncio voltou, Alois sentou-se novamente e decidiu que Klara merecia outro destino.
          E Alois desistiu.
          Esse foi o dia em que um rouxinol salvou a humanidade. 


[F.R.Luz]